Eletronuclear aguarda revisão de tarifa para dar retomada em Angra 3

No início de fevereiro, o diretor do Clube de Engenharia e Superintendente de Gerenciamento de Empreendimentos da Eletronuclear, Carlos Ferreira, detalhou em entrevista à Eletronuclear TV (leia aqui) os desafios para se manter as instalações da usina de Angra 3 em dia mesmo com as obras paralisadas desde 2015. A situação é tão dramática que, uma vez reiniciadas as obras, devem ser necessários pelo menos dois anos para que o ritmo da construção volte ao normal.

Em entrevista ao Petronotícias, reproduzida na íntegra abaixo, o presidente da Eletronuclar, Leonam Guimarães, detalha os passos para que as obras da usina sejam retomadas. O principal ponto é o aumento da tarifa de energia, considerada hoje inviável. Só então será possível renegociar dívidas da Eletronuclear que chegam a R$6 bilhões e buscar parcerias com o setor privado para reiniciar as obras. A manutenção de Angra 3 custará, apenas em 2018, cerca de R$30 milhões, a maior parte destinada ao seguro das instalações paralisadas. Guimarães ainda afirma que as parcerias deverão ser feitas de forma a manter com a União o controle acionário da usina.

Com capacidade de produzir 1.405 Megawatts — o suficiente para abastecer Brasília e Belo Horizonte juntas — Angra 3 está em construção há mais de 30 anos.

 

Eletronuclear aguarda revisão de tarifa para dar retomada em Angra 3 e projeta novos investimentos em manutenção

Por Davi de Souza
Fonte: Petronotícias

O Ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, esteve recentemente no complexo nuclear de Angra dos Reis. Durante a visita, ficou bastante satisfeito com o nível de preservação das instalações de Angra 3, cujas obras estão paradas desde 2015. A manutenção das estruturas da usina consumirá, somente em 2018, R$ 30 milhões de acordo com o presidente da companhia, Leonam Guimarães. “Não podemos deixar que as estruturas e equipamentos se degradarem. Isso tem sido feito com muito esforço, porque requer bastante mão de obra e materiais”, declarou o executivo. Ainda durante a visita de Coelho Filho, um tema bastante discutido foi a questão da revisão da tarifa, hoje em R$ 244 por MWh. O presidente da Eletronuclear afirma que esse valor torna o empreendimento inviável. Ainda segundo Leonam, um número ideal ficaria entre R$ 350 e R$ 400 por MWh. Quando sanada esta questão, a Eletronuclear poderá finalmente renegociar suas dívidas com a Caixa e BNDES para, finalmente, fechar uma parceria e recomeçar as obras. “Os parceiros estão bastante interessados, conhecem os custos e tem bastante informação da obra. Mas eles estão aguardando esse posicionamento”, concluiu.

Como estão as ações para a retomada das obras de Angra 3?
Primeiro é bom ressaltar a que as obras estão paradas desde 2015, mas, mesmo assim, a duras penas dado o cenário financeiro da Eletronuclear, temos conseguido manter e preservar tudo que foi feito na unidade. Isto é uma preocupação permanente nossa. Não podemos deixar que as estruturas e equipamentos se degradarem. Isso tem sido feito com muito esforço, porque requer bastante mão de obra e materiais.

Qual o custo estimado para a preservação de Angra 3?
Somente para o ano de 2018, temos projetado o valor de R$ 30 milhões e a principal despesa é com o seguro das obras. Este é o primeiro ponto, porque se a Eletronuclear não garantir a preservação, não tem como acontecer a retomada das obras. Na recente visita do ministro de Minas e Energia, ele ficou bastante impressionado com a preservação de todos os equipamentos. Para a retomada de Angra 3, nós consideramos uma pirâmide de metas para chegar ao objetivo final, que é a retomada das obras.

Poderia detalhar essa pirâmide de objetivos?
O primeiro ponto é a revisão da tarifa. O valor hoje vigente de R$ 244, torna o empreendimento inviável. Nós precisamos ter uma tarifa minimamente atrativa para viabilizar o empreendimento.

Qual seria o valor ideal?
Isto depende muito das condições da renegociação da dívida, mas ficaria entre R$ 350 e R$ 400.

Resolvida a questão da tarifa, qual o próximo passo?
A segunda etapa da é a renegociação das dívidas. A Eletronuclear acumula R$ 6 bilhões em dívidas contraídas com BNDES, Caixa e a própria Eletrobrás. E aí reside o maior problema, porque estamos pagando estas dívidas sem o empreendimento estar finalizado e gerando receita. Este cenário gera uma situação insustentável de caixa. Portanto, o segundo passo é renegociar a dívida de forma que haja carência até a usina entrar nem operação.
Resolvida esta questão, temos total condição de ir para a etapa seguinte, que é trazer um ou mais investidores privados. Já existem vários interessados em negociações conosco para que eles sejam sócios do empreendimento e que possam aportar o CAPEX para completar a usina. Esse valor é da ordem de R$ 13,8 bilhões de custos diretos. Mas para alcançar esta parceria e realmente avançar, precisamos resolver as questões da tarifa e da reestruturação da dívida.

O senhor pode detalhar como estão as renegociações da dívida da Eletronuclear?
Esta renegociação, para ser efetivada,  precisa ter a questão da tarifa resolvida. Para fecharmos a renegociação, é necessário ter a tarifa revisada e o equilíbrio econômico-financeiro do empreendimento.

E qual a previsão de definição do valor da tarifa?
Nós estamos há bastante tempo na expectativa da resolução [deste tema]. Este inclusive foi um assunto bastante tratado durante a visita do ministro de Minas e Energia. Ele se comprometeu em fazer o máximo possível para resolver o problema. Todos que visitam a Central Nuclear Álvaro Alberto veem a excelência da operação de Angra 1 e 2. Quando olham para Angra 3 parada, se sensibilizam com o problema.

Enquanto as questões pendentes ainda não estão resolvidas, como andam as negociações com os parceiros estrangeiros?
As conversas estão avançadas, mas para serem concretizadas, é necessários resolver estes problemas citados anteriormente. Resolvidas estas pendências, poderíamos estabelecer as condições de participação. Os parceiros estão bastante interessados, conhecem os custos e tem bastante informação da obra. Mas são necessárias as definições de tarifa e renegociação das dívidas para avançar nas negociações.

Qual o modelo de parceria ideal?
A parceria precisa obedecer à Constituição. A União tem que manter a maioria do capital votante. Então, a União tem que ter mais de 50%. Todas as discussões de modelagem feitas estão respeitando isso. E ainda assim, os parceiros mantém o interesse. Não só em Angra 3, mas em futuras usinas.

No início da entrevista, falamos um pouco sobre a preservação das obras de Angra 3. O senhor poderia comentar a questão tecnológica dentro do setor nuclear?
A demonstração da competência técnica da Eletronuclear na operação, construção e confiabilidade das usinas é o excelente desempenho que Angra 2 tem desde seu início, em 2001. Ao longo desses anos, Angra 2 se mantém entre as 10 usinas de maior desempenho do mundo. No ano passado, foi a 3ª melhor do mundo. Angra 1 teve algumas dificuldades no início de sua operação, mas a partir do esforço da empresa, a partir do final dos anos 90, o desempenho de Angra 1 melhorou e hoje a unidade está entre os 25% das melhores usinas do mundo.

A Eletronuclear sempre marca presença no Seminário Internacional de Energia Nuclear. Qual a importância destes grandes encontros empresariais para o setor?
A Eletronuclear sempre participou, estamos desde a primeira edição. Neste ano, estaremos presentes apresentando várias palestras técnicas. Esses eventos são muitos importantes na medida em que colocam os membros do setor juntos, facilitando o envolvimento e diálogo, bem como envolvem pessoas externas ao setor, ampliando o conhecimento da sociedade sobre a energia nuclear.

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