Informe 26/01/2018 - O Brasil não pode abrir mão do papel da indústria

O Brasil não pode abrir mão do papel da
 indústria como integradora do desenvolvimento

Os impactos da automação do trabalho, da extinção de cargos considerados obsoletos e as novas relações trabalhistas são alguns dos principais desafios da adoção da chamada Indústria 4.0 em todo o mundo. Apesar de o Brasil estar atrás de países como Coreia do Sul, Alemanha e EUA no que diz respeito à “quarta revolução industrial”, essas são questões urgentes que se relacionam à necessidade de planejamento e investimentos públicos para a retomada do desenvolvimento.

“A chamada Indústria 4.0 se caracteriza por conjuntos de políticas industriais que países como Alemanha e EUA fizeram, principalmente na última década, como forma de retomar sua centralidade na economia mundial”, explica Luis Fernandes, doutor em Ciência Política e professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. “Essa centralidade foi em parte perdida com a ascensão de países como a China e Coreia do Sul, que nas últimas décadas estruturaram cadeias de inovação fortemente associadas à política industrial e construção de cadeias de valor. Logo, são políticas de reação”, diz ele.

Para Fernandes, que é ex-presidente da FINEP, agência pública federal de fomento à inovação, o fator-chave que determinará o espaço do Brasil neste processo é a adoção ou não de um projeto nacional de desenvolvimento, capaz de direcionar investimentos públicos na criação de cadeias reais de agregação de valor na indústria, incorporando as novas tecnologias sem tornar a indústria nacional refém de grandes corporações internacionais dos países centrais (EUA e Europa). “A experiência internacional – China, Coreia do Sul e até os EUA – mostra que são os investimentos públicos que puxam os demais. Hoje, por outro lado, o que se vê no Brasil é a diminuição do papel das agências de financiamento, como a FINEP, e mesmo do BNDES, o contrário do que esses países fizeram para desenvolver suas políticas industriais. Não se pode abrir mão do papel da indústria como integradora do desenvolvimento nacional”, avalia o professor.

Importante destacar a dinâmica do BRICS nesse processo. Segundo Luis Fernandes, o mecanismo de cooperação que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, criado para fomentar uma alternativa à agenda econômica dos EUA e Europa, tem enfrentado dois movimentos que influenciam o contexto da Indústria 4.0. Primeiro, a acentuação da diferença entre China e Índia, que estruturaram projetos nacionais de desenvolvimento exitosos, e os demais países. Segundo, as crises política e econômica que transformaram a política externa do Brasil. “O peso da iniciativa BRICS na política externa brasileira caiu muito. A valorização da multipolarização do mundo mudou com Michel Temer, com o BRICS funcionando muito mais como um canal para facilitar acesso a investimentos da China do que como iniciativa geoeconômica e geopolítica. A retomada da importância do BRICS e, consequentemente, sua relevância na adoção da chamada Indústria 4.0 pelo Brasil, depende de uma redefinição política”, disse Fernandes.

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