Engenharia civil: modernização pode comprometer a qualidade


A modernização da arquitetura e da engenharia civil torna possível a execução de edifícios inovadores, belos, espaçosos e com curvas. No entanto, erros como a falta de atenção à tecnologia e técnica empregadas e falha na comunicação entre os envolvidos na obra fazem com que ainda ocorram muitos problemas na construção civil. Para explorar esse assunto, Ercio Thomaz, engenheiro civil e docente pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, realizou a palestra “Interações da superestrutura de concreto armado com vedações verticais e acabamentos”, no Clube de Engenharia, em 28 de junho. O evento teve promoção da Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e da Divisão Técnica de Estruturas (DES)  em parceria com o Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon).

O país se encontra, na opinião de Ercio Thomaz, em situação de carência de bons mestres e bons engenheiros, uma vez que muitos profissionais voltam-se mais para a gestão da obra do que para tecnologia. Segundo afirma, a construção brasileira atual tem um número razoável de obras em execução simultânea e cada vez mais a realização dos empreendimentos é feita em curtos períodos de tempo. Para o pesquisador, o erro está em não compreender as propriedades biológicas do concreto, que necessita de tempo para a estrutura atingir sua forma final.

Arquitetura: mais espaço e maiores riscos
Entre as questões apontadas pelo palestrante que interferem na engenharia civil hoje está a arquitetura que se pratica. Os profissionais da engenharia precisam construir garagens de edifícios cada vez maiores, com maiores espaços entre os pilares que sustentam a estrutura, e prevendo possíveis reformas que podem pedir a eliminação de pilares e redução da altura de vigas. Tais alterações na arquitetura causam mudanças no comportamento das cargas na obra, que devem ser consideradas. Também fazem-se paredes menos espessas e, consequentemente, mais suscetíveis a fissuras. Outro risco é a aplicação de cores escuras nas superfícies, que atraem mais calor do que a alvenaria pode suportar. Os projetos com concepção arrojada, de grande complexidade na estimativa das deformações e grande dificuldade de execução da estrutura, precisam de uma atenção maior para que tudo dê certo. "O calculista precisa sair um pouco do campo dele para tentar entender como esses aspectos funcionam, e o projeto vai nascer um pouco mais consolidado com o resto da obra", afirmou.

Projetos de má qualidade
Em alguns casos, os equívocos estão já na fase de concepção e estrutura de projeto, como a desconsideração do encurtamento natural de pilares, comprometendo a sustentação da estrutura; redução em altura de vigas, e “laje zero”, que significa a fragilidade de uma laje pela qual passam demasiados eletrodutos. As consequências são a ocorrência de reação álcali-agregado, ataque por sulfatos, cloretos e outros. No processo construtivo da obra também são frequentes problemas como o armazenamento incorreto de materiais sobre os pavimentos, engrossamento de revestimento e retirada precoce do escoramento. Durante a execução, facilmente podem ser encontradas falhas nas ligações entre paredes e pilares; paredes quase totalmente seccionadas para a introdução de tubulações; e emprego de componentes de alvenaria com grandes dimensões.

Estruturas flexíveis em alvenaria rígida
O engenheiro ainda apontou a contradição na modernização da estrutura de aço e da alvenaria. Com o requinte da siderurgia são utilizados aços especiais de altíssima resistência mecânica. Esse fator, aliado ao refinamento do cálculo estrutural e ao uso de concretos de alto desempenho, proporciona hoje estruturas de aço mais flexíveis. Por outro lado, tijolos são menores, são feitas juntas verticais sem argamassa e revestimento interno com pasta de gesso, entre outros procedimentos que tornam as paredes mais rígidas. "Ou seja, se de um lado se flexibiliza a estrutura, do outro se enrijece a alvenaria. A partir daí a consequência é óbvia: correr atrás do prejuízo".

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