Conteúdo Local e Futuro do Trabalho são pautas no Café Literário

O primeiro Café Literário, promovido pela Diretoria de Atividades Culturais do Clube de Engenharia, deu a sócios e convidados a oportunidade de refletir as mudanças previstas no mundo do trabalho e no desenvolvimento industrial brasileiro. “Pensando o futuro da engenharia no Brasil” foi o tema do evento realizado em 6 de dezembro com as presenças dos pesquisadores Jano Moreira de Souza, Yuri Lima e Eduardo Barbosa, do Laboratório do Futuro/Coppe, além de Adilson de Oliveira, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Investimentos e fragilidades
A Política de Conteúdo Local (PCL), tema central para debater o desenvolvimento do país através da indústria petrolífera, foi abordada pelo professor Adilson de Oliveira. A PCL define quanto de produtos e serviços de empresas nacionais devem estar presentes nos empreendimentos. É influenciada por fatores como geopolítica e economia do país. Oliveira apresentou dados: o conteúdo local na indústria do petróleo brasileira era relativamente alto em 2005, na faixa de 74%. Com a descoberta do pré-sal, foi preciso acessar tecnologia da qual o país era desprovido. Em 2013 o nível de conteúdo local na mesma indústria foi de 55%.

Segundo o professor, a queda ocorreu como reflexo de algumas fragilidades da PCL vigente, dentre elas o longo prazo dos empreendimentos que “cristalizava” as condições da participação e tornava a empresa refém das mudanças macroeconômicas no período definido. Além disso, a política focava em penalizar quem não a cumprisse e não em incentivar o cumprimento. Em janeiro de 2016, uma nova PCL trabalhou com base nos incentivos. Entre os objetivos estavam: desenvolver inovação e tecnologia com as universidades; motivar a participação de empresas locais de engenharia; gerar empregos qualificados e promover a exportação do petróleo. Foram planos modificados com a mudança de governo. Atualmente a nova PCL divide a exigência de conteúdo local em diferentes porcentagens para os diferentes “módulos” do empreendimento. De um modo geral, na visão do professor, a exigência decresceu. Sua crítica é justamente o fato de não ficar claro quanto do que é comprado no Brasil realmente tem engenharia brasileira, cumprindo a PCL. Oliveira também criticou que a PCL tenha sido desenhada sem qualquer diálogo com a política industrial do país, fundamental para um desenvolvimento nacional integrado. Para ele, a PCL só tem efeito prático se estimula a engenharia e a inovação tecnológica.

O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, registrou que a PCL executada pela Petrobras por cerca de 60 anos qualificou mais de cinco mil empresas nacionais, mas hoje a proposta de conteúdo local já não serve ao país. “Há uma política deliberada de destruir o que foi construído por mais de 60 anos”, afirmou. Para Adilson de Oliveira, a sociedade precisa ter uma nova proposta de conteúdo local que, de fato, favoreça o Brasil.

Um olhar sobre o trabalho
Os tecnologistas Eduardo Barbosa e Yuri Lima, do Laboratório do Futuro (COPPE/UFRJ), apresentaram as perspectivas para o mundo do trabalho e especificamente para o campo da engenharia com o estudo “Trabalhando em 2050”. Após estudos referentes a impactos da tecnologia e projeção de tendências a curto e longo prazo, chegaram a um cenário, considerado o mais provável, no qual identificaram quatro tendências.

A primeira tendência é o crescimento de novas formas alternativas de emprego, que destoam do padrão full time com uma relação clara entre empregado e empregador. Dentre modalidades de emprego temporário, sob demanda, segundo Yuri Lima, é importante ter um olhar para as novas modalidades de trabalho para além de seu caráter moderno, uma vez que em muitos casos os trabalhadores não são amparados pelas leis trabalhistas. “O emprego está sendo precarizado e nós precisamos prestar atenção para mudar isso”, afirmou. Nesse sentido, visto que as mudanças no mundo do trabalho são inevitáveis, a segunda tendência observada pela equipe do Laboratório do Futuro é a revolução da educação. Uma possibilidade é a utilização da tecnologia: inovações como a realidade aumentada podem ser grandes aliadas na didática.

Também é necessário preparar crianças e jovens para outra tendência observada: a “computerização” do trabalho. Está previsto que algumas atividades de hoje passarão a ser feitas por sistemas computadorizados. As que apresentam maiores chances são, por exemplo, telemarketing e recepcionista. Engenheiros, artistas e médicos estão mais distantes desse risco. A conclusão é que profissões que pedem criatividade e relacionamento interpessoal têm menor probabilidade de sofrerem a substituição, enquanto os mais vulneráveis são exatamente os trabalhadores de menor salário e menos recursos para qualificação profissional. Para Yuri Lima, essa deve ser uma preocupação da sociedade. Por último, a quarta tendência indica no futuro do trabalho a igualdade de gênero, colocando homens e mulheres nas mesmas condições, no entanto, a longo prazo.

Nesse contexto, o campo da engenharia inevitavelmente sofrerá significativas mudanças. Os profissionais do Laboratório do Futuro acreditam que seja necessário modificar a formação: garantir aos engenheiros capacidades que as máquinas não terão; formar profissionais com habilidades de liderança e comunicação; e ter projetos interdisciplinares como uma experimentação da atividade profissional.

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