Brasil busca parceiros no exterior para reativar exploração de urânio

A notícia surpreendeu o país: com a sexta maior reserva de urânio do mundo, estimada em 309.200 toneladas, o Brasil aumentou a importação do mineral em 2016, uma vez que estão esgotadas as reservas de uma única mina a céu aberto em exploração no município de Caetité, Bahia. A cidade, onde estão localizados 33% de todo o mineral do País, fica a mais de 600 quilômetros de Salvador e tem 38 anomalias, como são chamadas as áreas onde se pode extrair o mineral.

Comitiva de empresários, gestores públicos e especialistas busca na China parceiros que viabilizem a retomada de investimentos do setor nuclear brasileiro, por meio de Programas de Parceria em Investimentos (PPIs). A Eletronuclear, subsidiária da estatal Eletrobrás, responsável pela construção da Usina Nuclear de Angra 3, vê a possibilidade de parceiros que viabilizem a retomada das obras da usina, 62% já concluídas. Vale registrar que a usina de Angra 3 consumiu 7,7 bilhões de reais em investimentos.
 
Já o presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), João Carlos Derzi Tupinambá, também na China, busca parcerias para a exploração de minério em novas minas na região de Caetité. A proposta é viabilizar a ampliação da unidade química de transformação de urânio em yellow cake, além da segunda fase do processo de enriquecimento de urânio no País, cujo início está previsto para 2019. A empresa avalia que será necessário algo em torno de R$ 531 milhões para efetivar esses projetos.
 
Visita de cortesia, em setembro, do vice-presidente da empresa China Zhongyuan Engineering (CZEC), Ding Jian, resultou em proposta de carta de intenção de cooperação técnica em áreas vinculadas ao ciclo do combustível nuclear. A CZEC, subsidiária da China National Nuclear Corporation (CNNC), conglomerado estatal chinês que atua no setor, mostrou interesse em prospectar negócios na área nuclear.

Entraves no licenciamento
Dirigentes das INB aguardam licenciamento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para exploração de uma anomalia subterrânea que, por envolver cuidados maiores com a segurança, é mais demorado. O CNEN aguarda o atendimento de algumas exigências para a concessão da licença à INB.
 
Integrando a comitiva em viagem à China, o ex-presidente da INB e atual vice-diretor da Coppe/UFRJ, Aquilino Senra confirma que o processo de licenciamento de uma mina subterrânea é bastante complexo. O projeto de ventilação e alimentação elétrica da mina tem que ser muito robusto e o seu licenciamento é demorado.
 
Enquanto aguarda a licença do órgão regulador do setor nuclear brasileiro, a estatal planeja iniciar, em 2017, a exploração de outra lavra do minério a céu aberto na mina do Engenho, também em Caitité. Segundo a INB, a produção não pode parar e a nova mina, que fica a 2 quilômetros da antiga, já possui licença ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e boas condições de exploração a céu aberto. Terá capacidade de produzir 340 toneladas anuais de urânio a partir de 2017. Os investimentos são estimados em R$ 150 milhões em cinco anos, com recursos próprios.

As lavras de extração de urânio da mina de Cachoeira vinham sendo exploradas desde o ano 2000. Produziam 400 toneladas do minério por ano. Com a extinção dessa reserva de urânio, o Brasil passou a importar todo o minério que consome (380 toneladas) dos Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Reino Unido. No País, 99% de sua utilização são voltadas para a geração de energia nas usinas Angra 1 e Angra 2, responsáveis por 20% da energia elétrica de todo o Estado do Rio de Janeiro. O 1% restante é usado nas áreas de medicina e agricultura.

Negócios com a Argentina
Apesar do esgotamento das reservas de urânio de Cachoeira, a INB garante a exportação das últimas quatro toneladas de pó de dióxido de urânio (UO2) para a Argentina até o fim do ano. Serão utilizadas no reator modular Carem. O acordo de exportação foi firmado em junho deste ano, e os estoques da exploração do minério em Caetité garantem a última remessa.
 
No fim de outubro, João Carlos Tupinambá visitou a fábrica da empresa Combustibles Nucleares Argentinos S.A. (Conuar), em Buenos Aires, com o objetivo de aprofundar negociações em andamento e verificar potenciais formas de complementaridade nas atuações de Brasil e Argentina no setor nuclear.
 
Segundo o presidente da INB, a viagem foi muito produtiva, abriu novas possibilidades e veio ao encontro do que a empresa esperava. As duas empresas agora estão trabalhando na análise técnica de possíveis novos negócios e a ampliação de cooperação tecnológica. A Conuar demonstrou interesse em contratos de fornecimento de urânio enriquecido.
 
A INB também realizou encontros com a Nucleoeletrica Argentina S.A. (NASA), operadora das centrais argentinas, e com a Comisión Nacional de Energía Atómica (CNEA). O último encontro teve como foco a parceria Brasil/Argentina para buscar negócios no mercado internacional.

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